Nascido em 1905, João Marques de Oliveira, conhecido no mundo da cerâmica artística e da azulejaria aveirense por João Lavado, foi um dos grandes mestres de pintura das fábricas “Aleluia” e “Faianças de S. Roque”.
Em 1919, com apenas 14 anos de idade, João Lavado já estava na Fábrica Aleluia como aprendiz, nesse tempo a “escola artística” fazia-se com a experiência e o trabalho nas fábricas, aprendendo com os mestres. Apesar disso, não descurou o ensino formal, mesmo na área mais artística, frequentou a Escola Industrial Fernando Caldeira, onde teve por mestres grandes nomes das artes aveirenses: Silva Rocha, autor de inúmeros edifícios “Arte Nova” da cidade. Ensinou-lhe desenho, enquanto o escultor Romão Júnior foi seu mestre em modelação. Na pintura cerâmica teve como professor Gervásio Aleluia, um mestre pintor na Fábrica Aleluia. Mais tarde e ainda nessa escola, teve aulas de escultura com o escultor Andrade.
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Born in 1905, João Marques de Oliveira, known in the world of artistic ceramics and tiles in Aveiro as João Lavado, was one of the great master painters at “Aleluia” and “Faianças de S. Roque” factories.
In 1919, with just 14 years old, João Lavado already worked at Fábrica Aleluia, as an apprentice. At that time the “artistic school” was based on experience and work in factories, learning from the masters. Despite this, he did not neglect formal education, even in the most artistic area, he attended the Fernando Caldeira Industrial School, where he had great names in the arts of Aveiro as masters: Silva Rocha, author of numerous “Arte Nova” buildings in the city, taught him drawing , the sculptor Romão Júnior was his modeling master. In ceramic painting, he was taught by Gervásio Aleluia, a master painter at the Aleluia Factory. Later, and still at that school, he took sculpture classes with the sculptor Andrade.
Na fábrica Aleluia, João Lavado foi aprendendo muito bem as diversas técnicas das artes cerâmicas e da azulejaria artística e, cerca de década e meia volvida, já era um dos mestres pintores, mas a sua subida na hierarquia artística prosseguiu, até atingir o topo. Acabaria por deixar a empresa no ano de 1945 para se aventurar num novo projeto, entrando para a Faianças de S. Roque. No seu lugar ficou Lourenço Limas, outro nome incontornável da azulejaria aveirense.
Enquanto esteve na fábrica “Aleluia”, João Lavado criou obras ímpares, tanto na azulejaria como na louça artística. Desta última, um dos seus expoentes máximos é o famoso jarrão “Cidade de Aveiro”, entre outras peças únicas, muitas das quais estão em coleções, incluindo no estrangeiro. Já na azulejaria, foi autor de painéis que revestem espaços públicos, tanto em Aveiro, como por exemplo no edifício dos Paços do Concelho e em diferentes locais, nomeadamente em estações dos caminhos-de-ferro.
João Lavado assumiu a presidência do Núcleo de Acção Cultural da fábrica Aleluia, que incluía um orfeão e um grupo de teatro. Neste último, também mostrou os seus dotes de actor, integrando o elenco da peça “O Primeiro Beijo”, baseada na obra de Júlio Dantas.
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At the Aleluia factory, João Lavado learned very well the various techniques of ceramic arts and artistic tiles. About a decade and a half later, he was already one of the master painters but his rise in the artistic hierarchy continued until he reached the top. He would end up leaving the company in 1945 to venture into a new project, joining Faianças de S. Roque. In his place stayed Lourenço Limas, another unavoidable name in Aveiro tiles.
While he was at the “Aleluia” factory, João Lavado created unique works, both in terms of tiles and artistic tableware. Of the latter, one of its greatest exponents is the famous “Cidade de Aveiro” vase, among other unique pieces, many of them are in collections, including abroad. As for tiles, he was the author of panels that cover public spaces, both in Aveiro, for example in the Town Hall building, and in different places, namely in railway stations.
João Lavado assumed the presidency of the Nucleus of Cultural Action of Aleluia factory, which included an orphean and a theater group, where he showed his acting skills, joining the cast of the play “The First Kiss”, based on the work of Júlio Dantas.
Responsável artístico das Faianças S. Roque
Em 1955, já como um dos sócios da Fábrica de Louças e Azulejos S. Roque, João Lavado faz surgir a “Faianças S. Roque”, uma unidade especializada em louças decorativas e artísticas que, devido à qualidade das suas peças, ganha grande reputação no país, estando também presente em coleções estrangeiras.
Na “Faianças S. Roque”, João Lavado chamou a si toda a responsabilidade artística, da concepção ao acabamento final, tanto na modelação como na pintura, incrementando a produção de peças únicas, a par de louças decorativas de elevada qualidade artística produzidas industrialmente.
Muitas das peças mais relevantes entre 1945 e 1975 resultaram da imaginação e da inspiração artística de João Lavado, que também nunca deixou de aceitar os desafios que lhe eram colocados por pessoas que lhe encomendavam peças mais originais.
Em 1975, reformou-se, mantendo, no entanto, uma pequena oficina em casa, onde continuou a pintar faiança, que posteriormente era cozida em oficinas de artistas amigos.
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Artistic manager of Faianças S. Roque
In 1955, already one of the partners of Fábrica de Louças e Azulejos S. Roque, João Lavado created “Faianças S. Roque”, a unit specialized in decorative and artistic tableware which, due to the quality of its pieces, gained a great reputation in the country and also in foreign collections.
At “Faianças S. Roque”, João Lavado took on all artistic responsibility, from design to final finishing, both in modeling and painting, increasing the production of unique pieces, along with decorative tableware of high artistic quality produced industrially. Many of the most relevant pieces between 1945 and 1975 resulted from the imagination and artistic inspiration of João Lavado, he never failed to accept the challenges posed by clients who ordered more original pieces.
In 1975 he retired, maintaining however, a small workshop at home, where he continued to paint earthenware, that were later fired in the workshops of artist friends.
De aprendiz a mestre
Tanto no período em que esteve na “Aleluia”, como depois na “Faianças S. Roque”, João Lavado procurou aprender sempre, tentando conhecer o que de melhor e mais relevante se fazia em Portugal e também no estrangeiro. A par disso, contactava com os grandes mestres nacionais da cerâmica e da azulejaria, muitos dos quais admiravam a sua difícil técnica de pintar sobre chacota e de cozer as peças em forno de chama direta.
Se teve bons mestres, não só enquanto aprendiz na fábrica “Aleluia”, como também na escola, João Lavado foi também um mestre para muitos dos pintores que, anos mais tarde, alcançaram também o estatuto de mestre. Um desses seus aprendizes foi João dos Santos Calisto, falecido em 2012, que começou a pintar barcos e barricas na casa de João Lavado. Este, pouco tempo depois, levou-o como aprendiz para a “Aleluia”, onde também ele chegou ao topo da hierarquia artística.
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From Apprentice to Master
Both during the period in which he was at “Aleluia”, and later at “Faianças S. Roque”, João Lavado always sought to learn, trying to find out what was best and most relevant in Portugal and also abroad. Alongside this, he was in contact with the great national masters of ceramics and tiles, many of whom admired his difficult technique of painting on mock-ups and firing the pieces in a direct flame kiln.
If he had good masters, not only as an apprentice at the “Aleluia” factory, but also at school, João Lavado was also a master for many of the painters who, years later, also achieved the status of master. One of his apprentices was João dos Santos Calisto, who died in 2012, he started painting boats and barrels at João Lavado’s house. This one, shortly afterwards, João Lavado took him as an apprentice to “Aleluia”, where he himself became a master and reached the top of the artistic hierarchy.
Na “Faianças de S. Roque”, formou também três grandes pintores/mestres, Marino Matos, Acácio Grego e Flamínio dos Reis. Em tempos que o dinheiro era escasso, todos desejavam algum extra para equilibrar os seus orçamentos, então, João Lavado, elaborou três decorações diferentes, uma para cada um deles, para que pudessem levar peças para pintar em suas casas à noite e ao fim de semana, muitas vezes à luz da vela ou do candeeiro a petróleo.
A partilha com os seus aprendizes de alguns dos pequenos detalhes, truques e ferramentas, colmatava a escassez de materiais e utensílios (como os pincéis e seus diversos tipos de pelos que era preciso ir ao matadouro fazer a recolha) no mercado.
João Lavado ficou na História da Cerâmica Aveirense, mas também, pela sua capacidade técnica e artística, na História da Faiança Portuguesa.
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At “Faianças de S. Roque”, he also trained three great painters/masters, Marino Matos, Acácio Grego and Flamínio dos Reis. In times where money was scarce, everyone wanted some extra to balance their budgets, so João Lavado created three different decorations, one for each of them, so they could take pieces to paint in their homes at night and at weekends, often with a candle or oil lamp light.
Sharing some of the small details, tricks and tools with his apprentices, it filled the shortage of materials and utensils (such as brushes and their different types of hair, which required going to the slaughterhouse to collect ) on the market.
João Lavado was in the History of Cerâmica Aveirense, but also, due to his technical and artistic capacity, in the History of Portuguese Faience.
João Lavado ficou na História da Cerâmica
Foi um artista que mostrou a sua arte ao público, participando em exposições, como a I Exposição dos Artistas de Aveiro, realizada em 1963, a exposição de cerâmica comemorativa do XV Aniversário das “Faianças de S. Roque”, ocorrida em 1971, a exposição “3 Artistas em exposição 72”, que teve lugar em 1972, e a exposição de cerâmica realizada na Galeria Municipal de Aveiro, em Abril de 1992.
No dia 2 de maio de 1992, João Lavado foi homenageado num almoço promovido por individualidades e colectividades do meio artístico e cultural e poderes autárquicos.
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João Lavado was included in the History of Ceramics
He was an artist who showed his art to the public, participating in exhibitions, such as the 1st Exhibition of Artists of Aveiro, held in 1963, the ceramic exhibition commemorating the XV Anniversary of “Faianças S. Roque”, held in 1971, the exhibition “3 Artists in exhibition 72”, which took place in 1972, and the ceramics exhibition held at the Aveiro Municipal Gallery, in April 1992.
On May 2, 1992, João Lavado was honored at a lunch promoted by individuals and groups from the artistic and cultural world and local authorities.
Fonte/Source: Cardoso Ferreira in Correio do Vouga, 6 de março de 2013